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Comentário de ex-presidente da OAB gera desconforto entre advogadas: “Sexista e misógino”

Raíssa França e Clara Lis Cavalcante*

Um comentário feito pelo ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil seccional de Alagoas, Omar Coelho, em um grupo do WhatsApp gerou desconforto entre as advogadas que consideraram a mensagem como ‘sexista e misógina’. Em sua defesa, Omar disse que fez uma brincadeira e que estava “entre amigos”.

A situação aconteceu quando Omar fez um print de um gesto aleatório de um pré-candidato à presidência da OAB, durante um encontro com advogadas alagoanas. Logo após, ele publicou no grupo e fez um comentário: “Maiorano usando a linguagem das libras para dizer que a reunião era com as mulheres”.

O comentário do ex-presidente não foi bem aceito pela advocacia feminina. O que chamou atenção das advogadas, não foi apenas o comentário do advogado, mas também o silêncio da mídia e de algumas mulheres.

Advogadas falam sobre machismo

A advogada Renata Almeida disse ao Eufemea que quando viu o print e o comentário se sentiu desrespeitada e ‘enojada’ como a mulher é reduzida apenas a um órgão sexual.

“A história mostra que nós, mulheres, sempre tivemos que lutar contra a misoginia e, todas as conquistas obtidas foram através de árduas batalhas diárias, construídas degrau por degrau”, enfatiza.

Renata Almeida. Foto: Cortesia

Renata também disse que o que mais lhe chamou atenção foi o silêncio de muitas mulheres acerca do assunto. “Mulheres que afirmam em suas falas que lutam pelos direitos e espaços femininos”.

Ela também comentou que muitas vezes, o comportamento machista e sexista parece ser normalizado. “A cultura do machismo é tão complexa e enraizada, que exige muito tempo de desconstrução de padrões rígidos para formar uma sociedade justa e igual para homens e mulheres”.

Gabriela Lamenha, advogada, está presente na foto que circulou em grupos do whatsapp. Segundo ela, o fato a causou repulsa, indignação e, particularmente nela, exposição e constrangimento, já que ela estava na foto.

Gabriela Lamenha. Foto: Cortesia

Ainda conforme Gabriela, conforme o print começou a ser divulgado, muitas mulheres defenderam Omar. 

“E isso me trouxe a reflexão do quanto ainda temos que ampliar o debate para que tal medida seja nitidamente reconhecida por todos como um ato ofensivo e misógino”, afirma.

Ela pontuou que a advocacia é uma área muito corporativista e revestida de troca de favores e muitos tomam o posicionamento de “deixar para lá ou tirar por menos”, em virtude da posição ocupada por Omar.

A advogada reforça que as mulheres independente de lado político precisam se unir, ter coragem de ir à luta. 

Mulheres e mídia silenciaram

Anne Caroline, advogada, afirmou que se sentiu terrível, já que o que aconteceu “reduziu não só as mulheres presentes na foto”, mas todas as mulheres que participam da vida pública.

Anne Caroline. Foto: Cortesia

“Isso nunca foi e nunca será engraçado, pois nenhuma mulher se sente confortável sabendo que sua existência está sendo reduzida a seu órgão reprodutor, sobretudo em um contexto político”, afirma. 

Ela continua que, o que a preocupa tanto quanto o ato em si, é o silenciamento das pessoas que ocupam lugares importantes na advocacia e que teriam o dever de repudiar esse tipo de comportamento. Ela conta que acredita que a não propagação deste fato na mídia vem da própria naturalização do machismo. 

“É importante que  haja uma reflexão da sociedade como um todo de como a naturalização do machismo e quanto essa naturalização não só constrange, mas violenta as mulheres como um todo”, ressalta.

“Foi uma brincadeira”

Procurado pelo Eufemea, Omar Coelho afirmou que fez uma brincadeira e que estava em um ambiente reservado. “Imaginava que estava entre amigos”, disse.

De acordo com ele, em razão do processo eleitoral e da falta de caráter de alguns, fizeram um print, praticando um crime, segundo a orientação do STJ, para tentar desqualifica-lo porque ele apoia a chapa opositora.

“Hoje, sem dúvida, estamos vivendo um momento muito delicado, onde, usando de má-fé, se coloca maldade em tudo. A sociedade alagoana toda me conhece e sabe do meu proceder, principalmente, as mulheres que sempre as exortei para avançarem nesta luta constante contra o tratamento diferenciado”, explica.

O ex-presidente disse que é pai de cinco filhas, tem uma neta, três irmãs, mães e conviveu com quatro avós. 

“Nasci e me criei em um ambiente eminentemente feminino. Por onde passei, sempre fiz questão de prestigiar e ter mulheres ao meu lado, não imagino um mundo sem igualdade, mas não estamos livre de gente mau-caráter, que desconsideram tudo isso, somente por questões eleitoreiras”, comentou.

Ele disse que tem uma vida aberta e transparente, e que essas difamações não colam. 

“Não é a primeira vez que tentam me expor, me diminuir, mas minha imagem a sociedade alagoana conhece. É muito simples confirmar tudo isso, basta procurar saber de quem convive ou já conviveu comigo, para saber como trato as mulheres”, afirmou.

Por fim, o ex-presidente disse que ontem, “somente para conferir se a pessoa que agiu anteriormente tinha ou não caráter, porque poderia ter agido e se arrependido”, ele jogou uma ‘verde’ e comprovou “que é ausência de caráter mesmo, não apenas um equívoco cometido contra um homem de bem”.

*Estagiária sob a supervisão da Editoria

Picture of Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.