Texto por Thayanne Magalhães/Jornalista
Todo Dia dos Pais eu recebo mensagens me parabenizando por exercer os dois papéis. “Feliz dia das Pães”. E todo ano tenho que repetir meu discurso de que não, eu não sou pai, eu sou uma mãe sobrecarregada e exausta.
A gente se sente intimidada a não falar sobre o cansaço porque para os juízes de plantão, soa como reclamação. Como se a gente não gostasse de ser mãe e não é isso. O que eu estou tentando é acabar de uma vez com essa cultura da mãe guerreira, que todo mundo elogia, mas ninguém pergunta do que a gente está precisando. Ninguém faz um bolo e vem na nossa casa conversar e dar atenção aos nossos filhos.
Meu intuito é fazer com que outras mães na mesma situação não se sintam obrigadas a sempre parecer fortes. Pode chorar. Pode desejar uma semana inteira sem cuidar das crianças, apenas sentada numa cadeira de praia tomando drinks sem se preocupar com a hora do almoço.
“Mas teve filho porque quis”. No meu caso, particularmente, sim. Sempre planejei engravidar depois de formada e com uma certa estabilidade financeira. Foi o que fiz. Nunca cogitei depender de marido e olhe aí. Há cinco anos crio meus filhos sozinha, sem rede de apoio, e um genitor que visita quando quer e paga pensão apulso, porque busquei os direitos dos meus filhos na Justiça. Foi o que planejei? Não. Casei bonitinho na igreja e tudo e sempre ouvi o quanto a pessoa sonhava em ser pai.
Eu vejo casais que separam, mas o cuidado com os filhos é mútuo e isso me dá inveja. Mas, sou mais uma das mais de 11 milhões de mães solo no Brasil que criam os filhos sozinhos, porque homem pode recomeçar a vida como se não tivesse filho. Uma mulher que toma essa decisão, de deixar os filhos com o pai ou avós, é jogada na fogueira.
Eu não me vejo hoje em outra rotina que não seja a de criar meus filhos. Vê-los crescer e proporcionar educação, ensinar empatia, mostrar o papel do homem no ambiente onde vive e a responsabilidade de botar outro ser humano no mundo. Espero do fundo do meu coração que essa geração de meninos não repita a canalhice dos seus pais.
Mas voltando ao ponto inicial: cansa! Cansa muito! Você se anula e deixa de fazer absolutamente tudo o que fazia antes de ser mãe. Toda sua rotina está relacionada às atividades das crianças e a vida social é cancelada. Os velhos amigos cobram sua presença, falam para você “viver” e dificilmente participam da sua nova rotina.
Tem dias que parece que não vou dar conta, que desejo estar sozinha, sair para um programa de adulto, me tranco no banheiro e choro. É cansaço físico, mental e emocional. E depois disso vem a culpa por ter sentido tudo aquilo. E assim caminhamos tentando manter a sanidade.
A maternidade solo é injusta, solitária e exaustiva. Mas quando me perguntam como me sinto, eu digo que sinto saudade do que ainda é. Como assim? Eles vão crescer e eu vou frear. Não vai ter mais Gabriel e Vicente o dia inteiro precisando de mim e então, por que a pressa? Se eu pudesse falar com todas as mães que vivem a mesma rotina, seria isso: vai passar e a gente vai se perguntar o que fazer agora.
Por fim, repito e reafirmo: a melhor parte da minha vida é a maternidade, mas precisamos parar de romantizar a solidão e a exaustão materna.
“Quem pariu Mateus que balance” está defasado. A criança é responsabilidade da comunidade e se todos tomassem consciência disso e não abandonassem a sua amiga baladeira que agora cria os filhos sozinha, evitaríamos muito sofrimento para essas mães e para as crianças. Não é feio reclamar do cansaço materno, feio é enxergar a dor nos olhos de uma mãe solo e fingir que não é com você.