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Do Agreste para Harvard: “Meu sotaque é minha identidade cultural”, diz estudante

O sotaque de Natália Cecília Carvalho Ribeiro, de 23 anos, revela quem é ela: nordestina, alagoana e nascida em Arapiraca, Agreste de Alagoas. A história de Natália ganhou destaque na última semana após ela ter sido aprovada para estudar na universidade de Harvard, situada na cidade de Cambridge, nos arredores de Boston, nos Estados Unidos. 

A universidade é uma das mais famosas e tradicionais do mundo. E é para lá que Natália vai. Para que a alagoana alcançasse essa conquista foi preciso muito estudo e dedicação. Em 2018, Natália começou a cursar Relações Exteriores na Universidade Federal de Santa Catarina, mas não imaginava que queria ir para Harvard.

Ela contou ao Eufemea que só conheceu como funcionava Harvard após um vídeo da deputada federal Tabata Amaral (que na época não era parlamentar) em uma entrevista que ela contava como tinha saído do lugar que morava – que era considerado muito pobre – para entrar na universidade.

“Ela falou de forma tão genuína e sincera que eu me identifiquei, e pensei que queria estudar lá também”, contou Natália.

Durante esse tempo, a estudante precisou se dedicar, mandar e-mails, tirar boas notas e ingressar em grupos de pesquisa. “Em 2018, eu tentei entrar e fui rejeitada, mas decidi que não ia desistir. Se ninguém acreditava em mim, eu precisava acreditar”, reforçou.

Foi em 2020 que os frutos de Natália foram colhidos: a aprovação veio. Em Harvard, ela vai estudar economia por um ano na Faculty of Arts & Sciences.

Mas os sonhos de Natália não param por aí. A alagoana garantiu que sonha em chegar ao topo de uma grande empresa ou fundar uma empresa. “Quero ser reconhecida como uma liderança feminina”.

Para ajudar outros estudantes, inclusive os da rede pública de ensino, Natália fundou uma página no Instagram chamada “Nordeste nerd” para levar informação e no futuro oferecer bolsas de estudo para talentos.

“Nós precisamos valorizar a educação da forma que ela tem que ser dada. Todo mundo sabe que a gente só muda o mundo através da educação, mas é preciso que se tenha oportunidades”, comentou.

Identidade cultural

Natália contou ao Eufemea que, certa vez, ouviu um comentário que a magoou. “Uma pessoa da universidade me disse que se eu quisesse que as pessoas me levassem à sério e como acadêmica, eu precisaria disfarçar meu sotaque”.

Entretanto, a alagoana não baixou a guarda e garantiu que o sotaque dela é a identidade cultural. “O lugar de onde veio é parte da minha personalidade, da forma que eu enxergo o mundo e dos sonhos que tenho”.

Para ela, “estar junto das raízes é afastar os comentários ofensivos”. Por fim, Natália vai levar para Harvard o chapéu de couro – símbolo do Nordeste -. “Toda vez que acontece uma coisa importante na minha vida, uso esse chapéu para lembrar das minhas origens”. Conforme a alagoana, o chapéu serve para reafirmar que os preconceitos contra os nordestinos são irreais.

“Nós que somos do Nordeste, do Sertão, do Agreste, somos tão capacitados e inteligentes quanto às outras pessoas de todo o Brasil. E o que mais precisamos é de mais oportunidades”, finalizou.

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Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.